O que são reforços comportamentais? — Skinner e a Psicologia Comportamental
Descubra o que são reforços comportamentais segundo B. F. Skinner e entenda como eles moldam hábitos, decisões e comportamentos humanos.
PSICOLOGIA
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O que são reforços comportamentais? — Skinner e a Psicologia Comportamental
Introdução
Por que repetimos certos comportamentos, mesmo sem perceber?
Por que o simples toque de uma notificação no celular é capaz de nos fazer parar tudo e olhar a tela, quase automaticamente?
Essas perguntas são centrais para entender um dos pilares da Psicologia Comportamental: o reforço.
O termo, cunhado por Burrhus Frederic Skinner (1904–1990), representa o mecanismo fundamental que explica como os comportamentos são aprendidos, mantidos e fortalecidos ao longo do tempo.
Neste artigo, vamos compreender o que são reforços comportamentais, seus tipos, como eles moldam o comportamento humano, e o que a ciência do comportamento — especialmente o Behaviorismo Operante — revela sobre esse processo.
1. O que é reforço na Psicologia Comportamental?
Na perspectiva de Skinner, o comportamento é controlado por suas consequências.
Quando uma ação produz um resultado que aumenta a probabilidade de ela ocorrer novamente no futuro, dizemos que houve reforço.
👉 Em termos simples:
Reforço é qualquer consequência que fortalece um comportamento.
Isso significa que o reforço não é definido pela intenção de quem aplica, mas pelo efeito que causa sobre o comportamento.
Por exemplo, dar um elogio pode funcionar como reforço positivo para uma criança, mas pode não ter o mesmo efeito em um adolescente que se sente constrangido ao receber atenção pública.
2. O comportamento operante e a lei do efeito
Antes de Skinner, o psicólogo Edward Thorndike já havia proposto a Lei do Efeito, que dizia que comportamentos seguidos por consequências satisfatórias tendem a se repetir.
Skinner expandiu essa ideia e desenvolveu o conceito de condicionamento operante.
🧩 Condicionamento operante
É o processo pelo qual o comportamento é modificado por suas consequências.
Ele envolve três elementos principais:
A tríplice contingência: a unidade básica do comportamento operante
Skinner propôs que todo comportamento operante pode ser compreendido a partir de uma relação funcional chamada tríplice contingência, representada pela fórmula:
SD → R → C
(Estímulo Discriminativo → Resposta → Consequência)
Essa tríplice descreve como o ambiente antecede e segue o comportamento, determinando sua probabilidade de ocorrência futura.


Assim, o reforço é a consequência que fortalece o elo entre o estímulo e a resposta.
3. Tipos de reforços: positivo e negativo
Skinner classificou os reforços em dois tipos principais, dependendo da natureza da consequência que segue o comportamento.


➡️ Em ambos os casos, o resultado é o fortalecimento do comportamento — o que muda é se algo foi adicionado (positivo) ou removido (negativo).
⚠️ Atenção: reforço negativo não é punição.
Na punição, a consequência reduz a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente. No reforço negativo, ela aumenta, pois remove algo desconfortável.
4. Reforços primários e secundários
Outra distinção importante feita por Skinner é entre reforços primários e secundários (ou condicionados).


Os reforços secundários têm enorme poder na sociedade moderna — afinal, a maioria de nossos comportamentos diários é mantida por símbolos de recompensa, não por necessidades biológicas diretas.
5. Reforço contínuo e intermitente
Nem sempre o reforço é aplicado de forma previsível.
Skinner observou que a frequência e o padrão de reforçamento influenciam fortemente na resistência do comportamento à extinção (quando ele deixa de ocorrer por ausência de reforço).
🔄 Tipos de esquemas de reforçamento


Os esquemas intermitentes podem ser:
De razão fixa (reforço a cada n respostas);
De razão variável (reforço após número imprevisível de respostas — como em cassinos);
De intervalo fixo (reforço após um tempo determinado);
De intervalo variável (reforço após intervalos de tempo imprevisíveis).
👉 É por isso que as redes sociais e os jogos são tão viciantes: eles utilizam reforçamento intermitente de razão variável, o mesmo princípio que mantém pessoas jogando caça-níqueis.
6. Aplicações práticas dos reforços comportamentais
Os princípios de reforço são aplicáveis a praticamente qualquer contexto em que há comportamento:
Educação: Professores reforçam a participação e o esforço dos alunos com elogios, notas ou recompensas simbólicas.
Empresas: Líderes reforçam desempenhos desejáveis com bônus, reconhecimento ou oportunidades de crescimento.
Terapia Comportamental: Psicólogos utilizam reforços planejados para modelar e manter comportamentos adaptativos, como rotinas, autocontrole ou habilidades sociais.
Treinamento animal: Reforço positivo é base do adestramento moderno.
Tecnologia: Aplicativos e redes sociais empregam reforços variáveis (notificações, curtidas, recompensas visuais) para manter engajamento.
7. A neurociência do reforço
O reforço tem base biológica no sistema de recompensa cerebral, especialmente nas vias dopaminérgicas que ligam o núcleo accumbens ao córtex pré-frontal.
Quando um comportamento produz uma consequência prazerosa, há liberação de dopamina, o que sinaliza ao cérebro: “repita isso.”
Com o tempo, o próprio estímulo antecedente (por exemplo, ver o ícone de uma rede social) passa a liberar dopamina, antecipando a recompensa — o que explica hábitos automáticos e compulsivos.
8. Skinner e a crítica ao “livre-arbítrio”
Skinner acreditava que a noção de livre-arbítrio era, em grande parte, uma ilusão.
Segundo ele, nossas ações são determinadas por contingências de reforço — eventos ambientais e históricos que moldam o comportamento.
No livro “Beyond Freedom and Dignity” (1971), ele argumenta que compreender e planejar contingências de reforço pode aumentar a liberdade real, permitindo que sociedades criem ambientes que promovam comportamentos mais éticos e saudáveis.
9. Conclusão
Os reforços comportamentais são o motor invisível por trás de quase tudo o que fazemos.
Eles explicam por que hábitos se consolidam, por que vícios se mantêm e por que o reconhecimento social é tão poderoso.
Entender os princípios de Skinner e da Psicologia Comportamental não significa negar a subjetividade humana, mas compreender o papel do ambiente nas escolhas que fazemos — e, assim, ter mais consciência e autonomia para criar condições que favoreçam nossos melhores comportamentos.
“Não é a vontade que move o homem, mas o reforço.” — B. F. Skinner
🔍 Referências
Skinner, B. F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Macmillan.
Skinner, B. F. (1971). Beyond Freedom and Dignity. New York: Knopf.
Thorndike, E. L. (1911). Animal Intelligence: Experimental Studies. Macmillan.
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: Comportamento e Cognição. Artmed.
Baum, W. M. (2017). Compreendendo o Behaviorismo: Ciência, comportamento e cultura. Artmed.
Schultz, W. (2015). Neuronal reward and decision signals: from theories to data. Physiological Reviews, 95(3), 853–951.


Sobre o autor:
Diego Jacferr é graduando em Psicologia pela Universidade Anhanguera - SP - Brasil.
Escreve artigos de divulgação científica com foco em psicologia e neurociência.


